Enfim, a final

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Texto de: Gabriel Panice

Enfim chegou o grande dia. O mais aguardado por quem ama e acompanha futebol.  A final da Copa do Mundo. Alemanha e Argentina, cada uma a seu modo, se preparam para a batalha final. Seis jogos após iniciarem a disputa, ambas têm seus motivos para levantarem a taça. A Alemanha, para essa geração apagar de vez a fama de amarelona e garantir um título, após tantas vezes ficar quase lá (final da Copa em 2002 e na Euro 2008, além das semifinais das Copas de 2006 e 2010 e da Euro 2012). Já a Argentina, para quebrar o longo tabu de 28 anos sem Copa, e desde 1993 sem ganhar nenhum título (nem Copa América), além de poder levantar a tão sonhada taça em território inimigo, como lembrou o bravo Mascherano antes da Copa (um dos melhores do Mundial, por sinal).

Alemanha e Argentina se tornarão hoje, as duas seleções eu mais se enfrentaram em finais de Mundial: a terceira (antes 86 e 90). No México em 86, comandados por Maradona, os argentinos levantaram a taça pela segunda vez na história. O troco veio em 90, na Itália. Os alemães ganharam por 1 a 0 em um lance muito polemico. Aos 40 do segundo tempo, o mexicano Edgardo Codesal aponta a marca da cal após uma simulação de Voeller. Brehme (que não era o batedor oficial, só bateu porque o capitão, Mätthaus, estava com uma bolha no pé) foi lá e deu o terceiro titulo alemão.

No Brasil, acontece o tira teima. Algumas superstições vêm à tona. A Alemanha foi campeã quando usou seu uniforme principal, o que acontece amanhã. Ao contrário da Argentina, que usa seu segundo, o mesmo que perdeu em 90. Tanto Brasil, quanto Itália levaram 24 anos para conquistar o tetra campeonato. Esse ano completa 24 anos do tri alemão, será?

A sede por vingança é muito maior por parte da Argentina. Se enfrentaram nas duas últimas Copas, nas duas a Alemanha passou. Em 2006, precisou dos pênaltis, já em 2010, um massacre por 4 a 0, e os alemães eliminaram pela segunda Copa seguida os argentinos nas quartas de final. 

Em 2010, a Alemanha goleou por 4 a 0 e mandou a Argentina para casa. (foto: Getty Images)

Dentro de campo, sem muitas surpresas. Alemanha deve vir com o mesmo time que atuou nas quartas, contra a França e no massacre, contra o Brasil. Lahm na lateral e Klose no ataque. Pelo lado albiceleste, di María ainda tem chance se jogar. Treinou no sábado, mas sentiu um incomodo no final da atividade e deve ficar no banco, assim como Agüero. Dessa forma, repetiria o mesmo time que eliminou a Holanda nos pênaltis. As prováveis escalações:




O que esperar do jogo? Alemanha com a bola, Argentina compactada, esperando para golpear com os pontas Enzo Pérez e Lavezzi e claro, Lionel Messi, solto, para decidir. Hoje, é essencial que ele apareça para a Argentina vencer.

Para nós, brasileiros, resta aproveitar o espetáculo. Se nossa seleção deu o maior vexame da história do futebol, nossa Copa não deixa a desejar em nada. Merecemos uma final memorável. Essa Copa merece. Desfrutemos. Afinal, teremos a melhor seleção, o melhor jogador, o maior palco, o maior artilheiro. É aproveitar.

Nau à deriva

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Texto de: Enrique Bayer

Os comandados de Felipão despediram-se da Copa do Mundo perdidos como um navio envolto num nevoeiro em alto-mar. É o retrato de um futebol que pode ser legendado em duas palavras: "estamos atrasados" ou "estamos perdidos". O futebol brasileiro está atrasado, perdido.

Quando tive a oportunidade de escrever sobre o confronto entre França e Suíça (que você pode conferir aqui) eu disse que "compactação, velocidade, objetividade e variação de jogadas são os pilares para o sucesso no futebol moderno", acontece que a seleção de Luis Felipe Scolari não demonstra nenhum desses valores. Aliás, parece fazer exatamente o contrário.

Um dos principais defeitos desse time, é que o meio campo não aparece pro jogo. Os zagueiros, especialmente David Luiz, tentam comunicação direta com o ataque, falhando miseravelmente na maioria das vezes. O que agrava a situação é que parece que não há técnico na lateral do campo. Os erros se repetem ou se repetiram jogo após jogo. Estamos perdidos.

Além do futebol pífio, que foi destruído pelas duas melhores seleções que encontrou pelo caminho (Alemanha e Holanda), a seleção brasileira parece carregada e cercada de soberba, desde a cobertura midiática até a postura da comissão técnica e dos jogadores... isso durou até a Alemanha nos humilhar. Boa parte dos envolvidos na preparação acreditavam, ou pelo menos diziam, que essa seleção era capaz de ser campeã. Na verdade nunca foi.

Estamos perdidos no nevoeiro, como o navio do começo do texto. E vamos demorar para sair dele. O futebol o país precisa de uma liga séria. Precisa abandonar a soberba do discurso que diz que somos "o país do futebol". Precisa de novos conceitos, novas ideias, novas pessoas. Precisa sair do nevoeiro. No entanto, é difícil acreditar que alguém em terras tupiniquins tenha coragem pra bater no peito e dizer "Eu posso salvar o navio!".


A expressão de David Luiz diz tudo: fracasso retumbante (Foto: Reuters)
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A fatídica decisão do terceiro lugar

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Pra Holanda é desprezível, para o Brasil é em nome da honra


Texto de: João Vitor Rezende

David Luiz desolado após a derrota contra a Alemanha (Foto: Gabriel Bouys/AFP)
Existiram decisões do terceiro lugar interessantes. Em 1998, o Parc dos Princes viu a Croácia fazer história logo em sua primeira Copa, e vencer a Holanda. Quatro anos depois, a Coreia do Sul - que dificilmente terá outra oportunidade,a não ser que a arbitragem dê outra "mãozinha" - jogou em casa em Daegu, mas perdeu para a Turquia, que também fez seu melhor resultado na história dos Mundiais. Essas partidas realmente foram decisões, principalmente em 2002, quando eram duas seleções que nunca tinham chegado tão longe. O jogo de sábado, provavelmente não entrará pra história. Talvez, entre.

O duelo Brasil e Holanda será mais que um amistoso de luxo. Não pela gana em conquistar os méritos do terceiro lugar. Até porque, ficar em terceiro numa Copa, não tem o mesmo significado de uma Olimpíada, por exemplo. Não conta pro quadro de medalhas, nem medalhas são atribuídas aos vencedores. Mas está lá, pra cumprir tabela. Certamente, pra não deixar a Copa com número ímpar de jogos. Já que deve ser jogado, Brasília receberá sua sétima partida neste sábado.

Van Gaal disse que não deseja perder, porque faria a Oranje deixar as terras sul-americanas como derrotados, com duas quedas consecutivas. Pra seleção brasileira, não é necessário dizer muita coisa. Vencer será uma tentativa de salvar o ambiente, de manter a cabeça erguida, após o passeio alemão no Mineirão (mais detalhes da partida contra a Alemanha, aqui).

Não dá pra prever qual será o comportamento e a escalação holandesa. Talvez, Van Gaal faça experiências, visando o próximo ciclo, pois sua equipe é recheada de jovens talentos formados na Eridivisie, que provavelmente continuarão defendendo a camisa laranja. O discurso dado pelo time de que a decisão não importa é balela, deve ser descartado. Afinal, Danny Blind, ex-zagueiro e atual auxiliar técnico, comandará a Holanda na próxima Copa. Sem dúvida, os jogadores vão querer mostrar serviço ao futuro treinador.

Felipão já assegurou 2 ou 3 mudanças. Fernandinho, Bernard e Fred devem ser sacados e substituídos por Ramires, Willian e Jô. Os dois últimos quase não tiveram oportunidades, e poderão ser titulares na despedida melancólica. Se os adversários já tem o futuro definido, o Brasil está longe disso. O final do jogo promete explicações, idas e vindas, quem sabe choro, tristeza, prognósticos sobre o futuro.

O resultado dos 90 minutos (ou mais) pode ficar de lado, em relação ao que pode vir depois do apito final. Daqui 20 anos, esse jogo poderá ser lembrado pelo rompimento de uma série de fatores que prejudicam o futebol brasileiro e pelo início de uma nova era, ou, por um trabalho que começou na base, e termina num próspero fim do jejum holandês. A Copa das Copas faz história, até na decisão do terceiro lugar.

Vlaar após desperdiçar o pênalti contra a Argentina (Foto: Odd Andersen/AFP)

Um dia, ou 4 anos de ressaca?

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8 de julho de 2014. A maior tragédia da história do futebol brasileiro. Mas será a última?


Texto de: João Vitor Rezende

Felipão deveria estar pensando pra falar. Deveria... (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

Depois da inesperada (menos para os discípulos da Mãe Dináh) e vexatória derrota, é necessário buscar forças pra recomeçar. Não só recomeçar, e sim, reformular. Mas após a eliminação de 2010, já se falava em transformação do futebol brasileiro. Houve uma tentativa de inovar na seleção, mas a seleção é só o ponto mais alto, e não todo o futebol brasileiro. Há coisas que ainda não foram feitas, e dificilmente serão feitas até 2018.

É possível se renovar, não só renovar a seleção, mas transformar tudo. O principal movimento de reformulação, o Bom Senso F.C., criado por atletas, é taxado de ridículo, incoerente, não só pelos dirigentes, que não querem ter seu poder dividido. Se submeter a aumentar a pré-temporada dos times, consequentemente diminuir o número de datas, o que resultaria numa diminuição de lucro e de poder das federações. A Globo não deseja perder o dinheiro de seus anunciantes, com a menos jogos por ano. É difícil falar que a Copa não é palco de disputas políticas, se o nosso futebol é cheio desses joguinhos. É lamentável, mas é verídico.

Desde a última conquista em 2002, o Brasil parou no tempo. A Espanha dominou o futebol com a conquista da Copa de 2010, 2 Eurocopas com a seleção principal, e 5 com as seleções de base. A Alemanha faz um trabalho impressionante com 4 semifinais seguidas da Copa do Mundo, 3 conquistas da Eurocopa pelas seleções de base e uma reestruturação da Bundesliga. As duas seleções apresentaram novos talentos, novos sistemas táticos, e os brasileiros, pararam. Quando se esperava pelo menos um bom planejamento pra disputar o Mundial em casa, a escolha equivocada por Mano Menezes foi consertada com outro erro, e o planejamento foi jogado fora. Buscaram a experiência. Mas experiência, sem resultado não diz nada. Scolari vem de passagens ruins pela seleção portuguesa, Chelsea e Palmeiras. A conquista da Copa do Brasil de 2012, ficou manchada pelo rebaixamento no mesmo ano, que Felipão deixou o barco, e assumiu o comando da seleção canarinho.

E as falhas continuaram no processo de preparação. A Copa das Confederações foi uma ilusão. A conquista de um campeonato que não serve de parâmetro pra nada, virou obsessão e espelho. Mas quatro campeões mundiais estavam lá? O Brasil é tri-campeão consecutivos, e nos anos seguintes, duas eliminações nas quartas de finais, e a última...  A última eliminação foi proporcionado por uma série de fatores, escolha dos jogadores. Existem sim, outros nomes que deveriam estar aí. Luís Filipe, Miranda, Luisão, Kaká, Ganso, Coutinho, Alan Kardec, Luís Fabiano, e até Robinho porque não. Se o retrospecto recente não o credenciava, o fato de ser um "medalhão" poderia contar a seu favor, quando o menino Neymar estivesse sobrecarregado. O mesmo vale para Kaká, que fez uma temporada boa no Milan, mas não foi lembrado. Esses nomes foram preteridos por Maxwell, Henrique, Paulinho, que vem de péssimas atuações no Tottenham, Jô e o contestadíssimo Fred.

Desde o primeiro dia de trabalho de Felipão e Parreira, foi criada uma pressão completamente desnecessária em busca da taça. E a cobrança só cresceu, até afetar o psicológico dos atletas. Não foi a torcida, ou as penalidades máximas que causaram isso, e sim o "oba-oba" de seus comandantes. O Brasil era favorito, por estar em casa, mas dividia o favoritismo com outras seleções de grande porte. Não para o auxiliar técnico, afinal, já na chegada à Granja Comary em maio, a seleção estava "com uma mão na taça". E o que menos se viu em Teresópolis, foi treino. Gravação de programa de TV sim, isso teve. Treino, poucos. Variações táticas, nenhuma. Afinal, variação, de qual tática?

Já não bastasse os problemas a serem resolvidos, a acachapante derrota contra a Alemanha, duas cenas lamentáveis e até bizarras protagonizadas pelo presidente da CBF e a comissão técnica. Cafu foi ao vestiário após o jogo, demonstrar apoio aos jogadores, mas foi expulso, isso mesmo, expulso, por José Maria Marin, presidente de uma confederação que diz atender os interesses do futebol brasileiro. O motivo alegado, foi que Marin não desejava a presença de estranhos. Vai ver nenhum dos jogadores conheciam o capitão do penta, ou talvez ele não conheça. E no dia seguinte, quando se esperava humildade pra reconhecer e assimilar os erros, um banho de arrogância por parte de Luis Felipe e Carlos Alberto. Pobre Dona Lúcia, que "entrou de caiaque no navio", ou "entrou pelo cano". A carta ingênua de uma brasileira, que era pra ser anônima, virou piada, condizente com o fiasco do dia 8 de julho de 2014, um dia que não deve ser esquecido.

Não é normal tomar 7 gols, ainda mais numa semifinal de Copa do Mundo. A coletiva de imprensa do dia da ressaca brasileira, só tornou maior o drama. Os obstáculos que deverão ser superados, são grandes. Não é só alterar os nomes, as cabeças, é trocar a filosofia, e caso não exista, é buscar e se criar uma. Até quando apostar no peso da camisa, e se esquecer que como tudo na vida, o futebol também é feito de mudança?

Como em um tango

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Texto de: Enrique Bayer

Cento e vinte minutos não foram suficientes pra definir o adversário da Alemanha na final da Copa do Mundo 2014. Cento e vinte minutos também não decretaram o que seria o Brasil e Argentina mais melancólico da história do futebol. Os hermanos estão na final. Como em um tango, Argentina e Holanda bailaram por cento e vinte minutos no Itaquerão. Muita insinuação, pouca objetividade. Parece que, se a FIFA permitisse, as duas seleções ainda estariam em campo.

Mas a FIFA não permite. Alguém sairia de São Paulo destinado a enfrentar a seleção alemã, a mesma que brincou com o Brasil ontem no Mineirão. O massacre alemão, a propósito, espantou pela efetividade no futebol e parece ter espantado também os possíveis adversários. É a única explicação para o desempenho fraco das duas seleções, que no tempo normal fizeram um jogo cheio de "não-me-toque".

Com medo do gol - ou de tomar gol - a laranja mecânica manteve-se fiel a sua proposta: apenas atacar depois de ser atacada. Também receosa de ver as redes de Romero balançando, a seleção Argentina demonstrou excessiva cautela, como a tradição "copera y peleadora" dos hermanos determina. O combinado de Messi + 10 lembrava muito um desses times cisplatinos que entra pra ganhar a Libertadores com o regulamento embaixo do braço.

O regulamento então, conduziu o jogo ao inevitável: a disputa dos pênaltis. E aí, mais uma vez, brilhou um goleiro. Mas dessa vez não foi o goleiro holandês. Romero, que faz parte daquela lista interminável de "goleiro argentinos que não são confiáveis" mostrou que talvez a imprensa especializada esteja errada.

Durante toda Copa, o argentino responsável por ficar debaixo das traves teve atuações que não comprometeram, tanto que nossos vizinhos estão na final. Os pênaltis seriam então um prêmio pelo bom desempenho do arqueiro?

Podem ser. Com duas defesas exemplares nas cobranças de Vlaar e Sneijder o guarda-meta argentino fez a geradora oficial de imagens focalizar Tim Krul, como se perguntasse aos telespectadores "Por que ele não está lá, na meta holandesa?". Não sabemos. Van Gaal provavelmente explicará, e provavelmente continuaremos conjecturando, como gostamos de fazer. O fato é que o herói da vez também veste luvas, mas desta vez ele é argentino.

Os argentinos agora tem a ingrata missão de fazer mais gols do que a Alemanha e empatar a disputa por títulos nas Copas entre europeus e americanos em 10 a 10. Tem também a oportunidade de passar a vida inteira zoando os brasileiros, que sediaram duas Copas e não ganharam nenhuma. Pior: com o tri argentino o saldo canarinho seria uma derrota na final e um título dos "nossos" maiores rivais na "nossa" casa.

Aos holandeses resta uma amarga disputa de terceiro lugar no sábado contra os donos da casa, o consolo de saber que não serão quatro vezes vice campeões em quatro finais e a dúvida eterna: o resultado seria diferente se Tim Krul estivesse lá?

P.S.: O leitor, amigo e atual morador de Buenos Aires, Heder Loose, lembrou que 9 de julho - a data do jogo - é também o dia da independência argentina. Mais um motivo pro arqueiro Romero ser considerado um herói nacional. E amigos, com o feriado, imaginem como não esteve Buenos Aires no pós jogo!

Questionado como quase todos goleiros argentinos da história, Romero garante a Argentina na final (Foto: Getty Images)

Existe Brasil sem Neymar?

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Colaboração de Jean Marcel

Existe Brasil sem Neymar? (Foto: Fabrizio Bench/AFP)

A lesão de Neymar foi o assunto mais falado em todos os noticiários (esportivos ou não), programas de entretenimento, redes sociais e conversas de "buteco" desde a última sexta-feira. Foi falta, não foi. Lance pra amarelo, pra vermelho. Punição severa, ou punição branda. Sem entrar no mérito de discutir a jogada que tirou o craque brasileiro da Copa, até porque não há mais tempo para lamentar, e sim pensar em saídas. A entrada de Willian é um dos esquemas planejados. Por meio dessa simples ferramenta (ao mesmo tempo chata e complicada, mas pelo menos é gratuita), tentarei encontrar outras soluções para o escrete canarinho. A análise é feita visando o jogo de amanhã, que Thiago Silva estará suspenso, por isso não está presente nas pranchetas. Outro detalhe, é Henrique como titular, e não Dante, já que ele foi o suplente de Neymar na última partida. A simulação foi feita antes da confirmação do zagueiro do Bayern entre os 11.

A primeira opção é a que mais deve agradar aos que confiam no camisa 9 brasileiro. Com o meio-campo mais fortalecido, a bola chegaria em melhores condições pra Fred. A movimentação de Hulk na frente é um dos trunfos nesse esquema, se apresentando para triangular com os que vem de trás. Hernanes foi pouco utilizado durante a Copa, talvez pela declaração dada após a partida contra o Panamá, ainda na fase de preparação, quando falou que não entendeu o motivo de ter ficado na reserva, preterido por Ramires. Se existe alguma mágoa, é a hora de Felipão deixar de lado, em nome da qualidade de passe e a técnica que o meio campista da Internazionale possui, além de ser um auxílio para Oscar na criação. Fernandinho e Luiz Gustavo ficariam encarregados por cobrir a subida dos laterais, além de se apresentar no ataque quando possível.

football formations

Sabe quando uma coisa na sua vida dá certo, ganha reconhecimento, e você acaba sendo lembrado por ela? Exatamente o que acontece com Felipão. Reedição de 2002, porque não? Fechar a casinha, congestionar o meio-campo, soltar os laterais, pegar a Alemanha desprevenida no contra-ataque. Na comparação com a seleção do penta, os jogadores atuais são bem mais técnicos. Marcelo e Maicon (ou Daniel Alves) são mais habilidosos que Cafú e Roberto Carlos, mas não necessariamente mais completos, e sim mais ofensivos. Os volantes tem papel imprescindível na cobertura da subida dos laterais. Com o 3-5-2, ou 3-6-1, com Hulk mais próximo do meio, aumenta a responsabilidade de Fred para marcar gols e de Oscar para fazer a distribuição do jogo.

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A terceira possibilidade é a que mais me agrada, e não vi nenhum comentarista citar essa formação. Se Fred só fez um gol no Mundial, porque insistir no centroavante? Apostar na rapidez do meio campo, agilidade no contragolpe. Mais uma vez, Fernandinho e Luiz Gustavo terão uma função importantíssima no esquema. Os dois darão segurança para que o ataque jogue tranquilo, com liberdade. A dupla vai ter que ficar mais atrás, subir só quando tiver certeza do lance, ainda mais com os avanços de David Luiz. O menino da alegria nas pernas seria uma boa peça pra infernizar a defesa adversária, e Hulk poderia se movimentar, abrir espaço pra quem vem de trás. É mais uma situação de esquema pro segundo tempo, já com a bola rolando, do que formação inicial. É muito difícil o senhor Scolari arriscar tanto a esse ponto.

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Opções não faltam pra Luiz Felipe Scolari. Pra quem pensa que a seleção brasileira é super dependente do Neymar, os próximos dois jogos poderão provar o contrário. Talvez, a torcida seja mais dependente dele, do que a próprio time. Messi para a alviceleste, é mais fundamental que Neymar para a amarelinha. Ainda mais sem Di Maria, que vem sendo muito mais participativo que Lionel, que é o cara que decide. Para o bem ou para o mal, Belo Horizonte entrará para a história do futebol nesta terça-feira. O Brasil tem chances sem o "Menino da Vila", basta aproveitar o fato de estar em casa e tirar forças dessa situação, para buscar o hexa na Copa das Copas.

Em busca da oitava

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Texto de: Gabriel Panice

Brasil e Alemanha definem amanhã o primeiro finalista da Copa do Mundo. O jogo ocorre no Mineirão, em Belo Horizonte, às 17 horas. Brasil chega sem Neymar, fora do Mundial e o capitão Thiago Silva, suspenso, enquanto a Alemanha sem Mustafi, também de fora da Copa. Os alemães, apesar de atuarem em terras tupiniquins, ainda são considerados favoritos a avançarem.

Ambos têm decepcionado muito na competição. Brasil passou apenas nos pênaltis contra o Chile nas oitavas, enquanto a Alemanha apenas na prorrogação contra a Argélia.
A seleção brasileira está de volta as semifinais após 12 anos e disputa pela décima vez a penúltima fase da competição. Por sua vez, a Alemanha chega a sua quarta semifinal seguida, tendo perdido as duas últimas. Os europeus, que são os que mais disputaram semifinais nas histórias das Copas, irão para a décima segunda.

Com a ausência de Neymar, Felipão tem algumas opções para escalar a equipe. No treino desta segunda, Luiz Gustavo entrou no lugar do craque, dando mais liberdade para Paulinho e Fernandinho. Mantendo assim, Oscar e Hulk abertos e Fred centralizado. Com esse time, Felipão espelha a tática alemã, reforçando o meio campo.

Seleção treina e Felipão mantém mistério (foto: VIPCOMM)

Outra opção, também treinada nesta segunda, é a entrada de Willian no lugar de Paulinho. Dessa forma, o esquema seria o mesmo usado no decorrer da competição. Outra dúvida de Felipão é na lateral direita, Maicon ou Daniel Alves. Este começou como titular no treino, porém foi substituído por Maicon no decorrer da atividade. O Brasil provável: Júlio César; Maicon, David Luiz, Dante e Marcelo; Luiz Gustavo, Fernandinho e Paulinho; Hulk, Fred e Oscar.

Já do lado alemão, Müller deve ser o centroavante, com Özil e Götze abertos. Apenas uma mudança em relação a vitória contra a França. A provável Alemanha é: Neuer; Lahm, Boateng, Hummels e Höwedes; Khedira, Schweinsteiger e Kroos; Götze, Müller e Götze.
Historicamente, Brasil e Alemanha não é um confronto equilibrado. O Brasil tem amplo domínio, 12 vitórias, 5 empates e 4 derrotas. Sendo que as 4 vitórias alemães ocorreram apenas em amistosos.

Em Copas do Mundo, houve apenas um confronto: a final de 2002, vencida pelo Brasil por 2 a 0. Outros três jogos oficiais aconteceram: 4 a 1 para o Brasil no Mundialito de 1980, 4 a 0 na Copa das Confederações de 1999 e 3 a 2 na Copa das Confederações de 2005, na Alemanha.

Se passar o Brasil, teremos uma final inédita em Copas, tanto contra Holanda, tanto contra Argentina. Já se passar a Alemanha, teremos a repetição da final de 1974, quando derrotou a Holanda ou das finais de 86 (perdeu) e 90 (venceu) com a Argentina.

Vale lembrar também, que quem passar para a final será a seleção que mais terá jogado finais na história. Pode ser a oitava para ambas.

Mais um suplente, por favor.

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Krul entra no fim da prorrogação e leva Oranjes à semifinal

Texto de: Vitor Carvalho

O momento chave da partida: Krul entra e se consagra (Foto: Getty Images)
A Fonte Nova, também chamada carinhosamente de Fonte de Gols (nome atribuído após muitas bolas na rede em seu campo) acostumou a quem ia acompanhar a Copa em Salvador, partidas animadas, bem jogadas - no mínimo de uma das equipes - disputadas e, geralmente, uma goleada. Seu ponto final na competição foi o último semifinalista a ser decidido: duelo entre a favorita e 100% Holanda contra a agradável surpresa do mundial, a Costa Rica. Uma partida que tomou ares dramáticos, com a cara da Copa das Copas. Uma despedida com um roteiro diferente do que os torcedores se habituaram, um roteiro ainda melhor.

Após cinco prorrogações e duas disputas de pênaltis nas oitavas de final ( os costarriquenhos participaram de uma), as quartas, até então, tiveram todos os jogos decididos nos 90 minutos. Caberia a peleja no Nordeste mudar esse panorama, embora os holandeses tenham lutado até o fim para alcançar o derradeiro tento. Foi falho, muito por mais uma partida memorável de Keylor Navas.

O arqueiro do Levante fechou o gol durante os 120 minutos de bombardeios e muitos impedimentos da Holanda. Aguentou até o fim, junto, claro, com seus defensores: principalmente  Giancarlo Gonzalez. Exímio mundial do zagueiro do Columbus Crew. Sem ele e mais uma vez a entrega de todos os atletas dentro de campo - além de Umanã salvar em cima da linha já nos descontos do segundo tempo - um possível sucesso na partida seria quase nulo.

Navas, apesar de sair intransponível com a bola rolando, foi ofuscado por Tim Krul. Parecia cena de cinema, algo improvável. Ato de ousadia e coragem de Van Gaal, poderia certamente ser o nome de uma superprodução hollywoodiana - talvez a parte 3 da saga e sem previsão de fim. Impressionante como a expressão "o dedo do técnico" funciona com essa seleção. Mais um reserva que decide para os holandeses. Desta vez, o protagonista era um goleiro. Predestinado? Competente? Os dois. E no fim, final feliz para a Holanda.

Na partida onde Van Persie, Sneijder e Depay decepcionaram - apenas Robben manteve o alto nível - já se sabia que o destaque viria de trás. Nos pênaltis, os goleiros se consagram. Dificilmente um arqueiro é culpado e exorcizado por uma derrota. Pelo contrário, na maioria das vezes é aclamado como heroi nacional. Do lado costarriquenho, uma estátua seria pouco pelos feitos alcançados de Keylor. Já pelo lado Europeu, uma incógnita. Tirar o titular absoluto para colocar um pegador de pênaltis, estamos acostumados no futsal, mas em uma Copa do Mundo...Havia desconfiança.

Nessas horas, lembrei daquela ultima memorável disputa de pênaltis, ao meu ver, no mundial da Alemanha em 2006. Naquela oportunidade, Alemanha e Argentina decidiam na "sorte" (reparem bem nas aspas) a passagem para às semifinais. Não teve troca de goleiro, não teve goleiro pegando tudo e mais um pouco. Mas Lehmann provou que é possível tirar esse estigma de loteria quando se está a nove metros e quinze do gol: estudou afinco os batedores argentinos, assim como Krul, e pegou três deles. Não me esqueço de antes das cobranças, o momento quando ele toma da mão do preparador de goleiros o papel com o estilo de cobrança de cada hermano.

Van Gaal queimou sua última alteração poucos segundos do fim. Krul entrou, defendeu dois pênaltis, acertou todos os cantos e a Holanda está em sua terceira semifinal nas últimas cinco Copas. Só Alemanha e Brasil tem feito igual ou superior. O comandante a cada partida mostra ser o técnico da Copa das Copas. Ofuscou o melhor goleiro dessa Copa, colocando um estreante para assumir papel de galã, de decisivo. Ninguém duvida que a Holanda merecia essa vaga pelo futebol apresentado e por dominar toda a partida.  E também que a Costa Rica se despediu como a campeã moral; transformaram um pequeno país em uma terra que respira futebol. A Louis, não duvidemos de mais deste louco mais competente que os brasileiros já viram. Sorte da Holanda e do Manchester United, não?

A "ótima geração belga" vai pra casa

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Texto de: Enrique Bayer

Tchau Bélgica, sentiremos saudades! Foto: Reprodução/Zero Hora
Agora são três encontros entre argentinos e belgas em Copa do Mundo. Os hermanos levam vantagem de 2 a 1 no confronto histórico. Em 1982 os belgas venceram por 1 a 0. Em 1986 Maradona foi o responsável pela vitória dos nossos vizinhos, 2 a 0. Na edição de 2014, Hazard e seus companheiros viram Higuaín dar a vitória aos argentinos.

É verdade que nenhuma das duas seleções tinha correspondido às expectativas criadas até aqui. A Bélgica, com talvez sua geração mais talentosa venceu por placares magros adversários como Rússia e Coréia do Sul. Nossos vizinhos argentinos ganharam da Bósnia com um gol contra e do Irã graças a um gol de Messi no finalzinho.

O começo do jogo, no entanto, foi promissor, parecia que Argentina e Bélgica fariam o melhor jogo das quartas de final. As duas seleções começaram marcando forte e trocando chegadas no ataque. Logo antes dos 10 minutos ficou claro que Sabella colocou o time pra frente, Lavezzi pela esquerda, Higuaín pela direita, Di María e Messi mais "livres" pra buscar o jogo. E foi isso que fizeram os argentinos até marcarem seu gol, aos 7 minutos de jogo. Em passe de Mesi pelo meio a bola sobrou no jeito para Higuaín que marcou seu primeiro gol na Copa.

Da metade do primeiro tempo em diante o jogo esfriou. A Argentina - cautelosa - diminuiu o volume ofensivo, a Bélgica - sem Mertens e Lukaku - chegava ao campo de ataque, mas sem criar grandes chances. Quando o time belga permitia, os hermanos apostavam na individualidade, com Messi, Higuaín, Di María (ou quem pegasse a bola) tentando a arrancada.

Com Hazard mais uma vez apagado, Witsel e Felaini, os cabeludos belgas, eram os responsáveis pela criação das melhores chances do time europeu, que tentou chutes longos. Aos vinte e cinco minutos da primeira etapa o meia do Zenit achou de Bruyne no meio, o jogador do Wolfsburg obrigou Romero a fazer boa defesa. Aos 33, Di María, o argentino que mais se movimentava, saiu machucado, e a Argentina diminuiu ainda mais a intensidade no ataque.

A defesa argentina a propósito - bastante contestada - fez boa atuação. Sem frescura, evitava a todo custo que Romero se sentisse ameaçado. Biglia, que começou como titular, teve destaque protegendo a zaga, Basanta também foi seguro. Aos 9 do segundo tempo, de novo na individualidade, Higuaín arrancou, caneteou Kompany e meteu no travessão de Courtois, quase liquidando a partida.

Já no final da partida os técnicos Sabella e Wilmots decidiram que faltava emoção ao jogo morno. O belga resolveu colocar Mertens e Lukaku dando mais presença ofensiva aos seus comandados. O argentino cometeu um erro comum nessa Copa: com o time vencendo, tirou os atacantes e trocou-os por volantes ou zagueiros (erro cometido pelo México e pelo próprio Brasil, por exemplo). Com isso, a Argentina passou um "calorzinho" em Brasília.

Lukaku, Van Buyten e Felaini marcaram presença na área argentina nos minutos finais, tentando fazer com que a Bélgica sobrevivesse no torneio, não funcionou. Os hermanos seguem vivos e dão aos seus animadíssimos torcedores motivos pra continuar cantando, no estádio. Os argentinos esperam a Holanda de Robben ou a Costa Rica de Bryan Ruiz nas semis.


Pragmatismo e vaga nas semis

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Texto de: Gabriel Panice

A Alemanha é a primeira semifinalista da Copa do Mundo 2014. Após vencer a freguesa França por 1 a 0 no místico Maracanã, a seleção ficará entre as 4 melhores seleções do mundo pela QUARTA vez seguida. Vice em 2002, terceiro em 2006, terceiro em 2010 e agora em 2014, busca o quarto título.

A vantagem no confronto é francesa. Mas quando se trata de Copas... Quarto encontro entre elas. Terceira vitória alemã. Quando o jogo é pra valer, os alemães não falham.

Tradição é a palavra que mais se encaixa para descrever o que o futebol alemão em Copas. É muito peso essa camisa. É a que mais atuou em Copas, a que mais venceu, a que mais disputou finais (7, junto com o Brasil)... E esse ano não é diferente. Se não joga o futebol bonito que muitos esperavam, vence. Aliás, quem disse que só futebol é preciso jogar bonito?

A Alemanha foi pragmática. Matou o jogo no início. Mats Hummels aos 13 do primeiro tempo deu a vantagem que classificaria a equipe à próxima fase.  No jogo aéreo, Hummels voltou a ser o velho Hummels. Decisivo. Impecável também na defesa. Seguro. Firme. Simples. Preciso.

Hummels comemora a classificação (Foto: Getty Images)

Se no primeiro tempo, a França até teve chances de gol, com Neuer muito bem, no segundo, essas oportunidades diminuíram. Pogba, Matuidi e Cabaye não conseguiram dominar o meio, assim ficou difícil a imposição dos "bleus". Valbuena também não foi bem, muito menos Griezmann. Benzema foi o único que tentou.

Faltou vontade a França. Não buscou desesperadamente o resultado, o que é de se esperar de quem está ficando de fora da Copa. Também faltou o craque. Alguém que chamasse a responsabilidade e partisse pra cima. Faltou Ribéry. O coletivo não foi suficiente pra desmontar a defesa alemã. Até agora, o coletivo tinha dado conta das outras partidas, hoje não. Até porque grupo alemão é mais forte. Melhor.

E Löw, finalmente soube usar esse grupo forte. Lahm de volta a lateral. Khedira no meio. Meio mais robusto. Problema na lateral direita resolvido. A Alemanha controlou o jogo. Quase não levou sustos. Quando a França chegou, Neuer estava lá. Tem sido a segurança em pessoa nessa Copa. Não precisou ser líbero hoje. “Apenas” goleiro. Muito bom goleiro, diga-se.

Não posso terminar o texto sem criticar o horário da peleja. UMA DA TARDE no Rio de Janeiro, amigos! Não é pra qualquer um. Ficou evidente que o jogo não foi aquilo que esperávamos pelo fator clima. 26º C e 88% de umidade não são das situações mais agradáveis para se jogar uma quarta de final de uma Copa do Mundo. Pesou muito.

Agora os alemães esperam. Brasil ou Colômbia. Tradição ou momento. Camisa ou bom futebol. É aguardar. Torcendo.

Temos uma seleção belga!

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A nova geração belga, finalmente foi um time

Texto de: João Vitor Rezende Borba

Com certeza, as oitavas de final serão lembradas pelas grandes atuações dos goleiros. No sábado, Júlio Cesar salvou a seleção brasileira. Navas conduziu a Costa Rica ao feito histórico. O duelo Alemanha e Argélia contou com grandes defesas Mbolhi e Neuer (que além de defender, jogou de líbero improvisado). Dessa vez, Howard simplesmente fechou o gol. Fica até difícil escolher a melhor atuação. Mas, se fosse pra eleger entre uma dessas, o goleiro americano merece destaque. E se a partida se prolongou tanto, é culpa de Howard. 16 defesas difíceis durante a partida, recorde nos últimos 50 anos.


Origi para em Howard (Foto: Pedro Ugarte/AFP)
Mais uma prorrogação, a quinta em oito jogos possíveis, igualando a marca da Copa de 1938 na França. Parece que os deuses do futebol querem mais tempo para apreciar o Mundial. Aos que esperavam emoção, Bélgica e Estados Unidos não deixaram a desejar. E aos que esperaram desde o início da Copa um jogo rápido, fácil e eficiente da nova geração belga, ficaram satisfeitos.

A Bélgica foi superior durante o jogo todo. Mertens, Hazard e De Bruyne revezaram entre si, ocupando todos os espaços no ataque. Origi não esteve fixo, se movimentou bastante, deu opção pra tabelas e triangulações. A superioridade ofensiva ficou clara pelo número de finalizações, 38 a 13, 27 delas no gol. Witsel e Fellaini também fizeram b
oas performances, marcando e apoiando quando necessário. A movimentação e a coletividade fizeram a diferença no ataque. Kompany e Van Buyten fizeram a melhor atuação de uma dupla de zaga na Copa. A experiência de um, complementa a agilidade e rapidez de outro. O arqueiro Courtois, foi seguro quando requisitado.

Tim defendeu o que pode, já que seu time não soube defender. Sobrou coração, garra. Faltou inteligência, técnica, demonstrada nos outros jogos. Totalmente vulnerável, mesmo mantendo o esquema com 3 volantes, e seus 2 meias presos, não só pela desorganização estadunidense, mas também pela ótima composição belga. A perda de Johnson aos 32 do primeiro tempo, fez muita falta ao time, mesmo com a boa atuação do substituto Yedlin. Sem a válvula de escape pela ala direita, os Estados Unidos perderam uma grande arma de ataque. Wondolowski (que perdeu um gol incrível no fim do jogo) entrou no lugar de Zusi para ser a referência do time. Com a mudança, Dempsey foi recuado, jogando na sua posição de origem, como um segunda atacante, recompondo o meio campo.

Mirallas substituiu Mertens, e manteve o nível técnico do ataque que continuou pressionando, mas sem resultado. Origi fez uma boa atuação durante o tempo normal, mas foi pro banco na prorrogação. Lukaku entrou, e parecia ser a peça que faltava no time holandês. No terceiro minuto do centroavante do Chelsea em campo, os diabos vermelhos finalmente conseguiram marcar. Bela jogada individual de Lukaku pela direita, a bola sobrou pra Kevin De Bruyne, que abriu o placar e finalmente conseguiu transpor a muralha Howard. No último minuto da prorrogação, De Bruyne retribuiu a gentileza, com um passe açucarado para Lukaku guardar o dele.

Água mole em pedra dura, tanto bate até que De Bruyne fura (Foto: Pedro Ugarte/AFP)
Os EUA jogaram melhor na prorrogação, mas não conseguiram segurar o ataque adversário. Green entrou no lugar de Bedoya nos últimos 15 minutos finais, e guardou um tento com 2 minutos em campo. O final do jogo foi na base do desespero, ataque e contra-ataque, mas sem mudar o resultado.

Os norte-americanos, cada vez mais envolvidos com o futebol, tem um legado para as próximas Copas. O soccer cresce em popularidade, expressão e também em nível técnico. A Bélgica que parecia ter chegado aos trancos e barrancos, aparentou ter embalado. A frágil defesa da Argentina que se cuide. Sonhar com uma semifinal, não é demais. A promissora geração belga, aos poucos se torna realidade.

O fantasma continua vivo, mas não o de 1950

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Texto de: Enrique Bayer

Os franceses conseguiram classificação para as quartas de final da Copa do Mundo, 2 a 0 sobre a seleção da Nigéria. Com isso, os Bleus são a única seleção que já derrotou o Brasil em finais de Copa que segue viva nessa edição do torneio.

Contudo, a classificação dos europeus não foi fácil. Parece que Benzema e companhia esqueceram o bom futebol das duas primeiras apresentações lá na primeira fase. A “culpa” dessa má apresentação, pelo menos para os palpiteiros das redes sociais, é do centro-avante Giroud.

É evidente que o jogador do Arsenal não consegue acompanhar a velocidade e não tem a mesma habilidade de companheiros de seleção, como Valbuena, por exemplo. No entanto, o sufoco dos franceses também pode ser atribuído a uma atuação acima do esperado por parte dos nigerianos.

Enyeama parou boas investidas dos Bleus, primeiro com Pogba aos 21 minutos. O volante da Juventus tabelou com Valbuena e recebeu cruzamento próximo à marca do pênalti para o voleio, o 0 a 0 não saiu do placar por pouco. Dez minutos depois, Debuchy esteve perto de marcar mais uma vez para os franceses, contra-ataque e chute pra fora.

As chances criadas pelos franceses ainda mostram que o time de Deschamps segue atacando em bloco, como fez nas primeiras partidas, mas os europeus parecem ter diminuído a intensidade (em relação ao jogo contra a Suíça por exemplo) e chegam menos vezes ao ataque.

Os africanos, jogando sempre pelos lados, levaram mais perigo à meta de Lloris no segundo tempo, principalmente com Odemwingie, que tentava chutes de longa distância. Aos 18 minutos da etapa complementar o nigeriano obrigou o goleiro francês a fazer boa defesa numa dessas jogadas.

Aos 24, Benzema, num lance de talento individual ganhou da zaga e finalizou na saída do goleiro, que ainda desviou a bola. Moses salvou em cima da linha o primeiro gol dos Bleus, que viria em seguida, mas não sem esforço. Cabaye carimbou a trave aos 31 do segundo tempo depois de confusão na área.

Aos 34, Enyeama, de boa atuação até então, saiu mal em cobrança de escanteio e Pogba não perdoou, 1 a 0 e caminho para a classificação aberto. Já nos acréscimos Valbuena cruzou e Yobo, em bola disputada com Griezmann, desviou para o fundo das redes, 2 a 0. Os Bleus enfrentarão a Alemanha nas quartas.


Pogba comemora o primeiro gol do jogo (Foto: Ivan Pacheco/Veja.com)

Para limpar a história

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Alemães e argelinos fazem duelo épico em Porto Alegre

Texto de: Gabriel Panice

Se em 82, Alemanha e Argélia foram protagonistas da “vergonha de Gijón”, em 2014 foram os atores principais do melhor jogo até aqui na Copa no Brasil. Não apenas pela emoção da peleja, mas pela entrega em todos os minutos do jogo de ambos os times.

Torcedores argelinos relembram 1982. (Foto: Getty Images)

Em 82, o melhor time argelino de todos os tempos até hoje, foi eliminado após um jogo de compadres entre Alemanha Ocidental e Áustria, que avançaram na chave. Antes, a Argélia havia vencido a Alemanha.  Hoje, os argelinos (ou franceses, como queiram) entraram com sangue nos olhos para vingar 82. E parecia que conseguiriam.

Os primeiros 30 minutos de jogo foram de domínio africano. Criando chances, pressionando na marcação e levando bastante perigo. Apenas após esse início surpreendente, é que a Alemanha conseguiu se impor, mas nunca deixando de sofrer os contra ataques argelinos.

Muito desse domínio surpreendente da Argélia é culpa de Joachim Löw, que insiste nos erros cometidos nos outros jogos. Quatro zagueiros-zagueiros na primeira linha de marcação. A teimosia não tinha fim. Seus meias (Götze e Özil) centralizavam para abrir o corredor para a subida dos laterais (?). Höwedes e Mustafi, zagueiros de ofício não conseguiram por em prática aquilo que Löw queria.

Quem diria, o músculo posterior da perna esquerda de Mustafi foi mais visionário que o próprio Löw. O falso lateral direito saiu lesionado aos 15 do segundo tempo. Com a entrada de Khedira, Lahm finalmente voltou para a lateral, de onde nunca deveria ter saído. A Alemanha criou, criou até bastante. Não esperava encontrar Rais Mbholi pelo caminho.

Em mais uma atuação daquelas de um goleiro na Copa, Rais impediu a vitória alemã. Em VINTE E UM chutes, Rais pegou NOVE. Muitas delas com um grau de dificuldade alto. Mas nada disso é importante. A garra, a vontade, a superação argelina e também alemã chamou mais a atenção. Noventa minutos não foram suficientes para medir a entrega dos times. Foram necessários cento e vinte. Até o último segundo, o suor de ambos escorria em busca do gol.

O melhor 0 a 0 das Copas, não merecia tal placar. A prorrogação veio para corrigir esse pecado. Schürrle, logo no início, com uma letra de médico, daquelas incompreensíveis, colocou o UM no placar e a certeza de que a Alemanha avançaria pela oitava vez seguida as quartas. Os argelinos discordaram. Partiram para mais uma batalha. Esgotados, sem energia alguma, ainda conseguiram assustar.

Schürrle comemora a abertura do placar na prorrogação (Foto: Reuters)

Quando Özil colocou o DOIS no placar, muitos deram a guerra como acabada. A Argélia não. No lance seguinte, Djabou deu o primeiro golpe que realmente machucou a meta defendida pelo maluco Neur. Pena que o tempo esgotou. O cruzado de esquerda de Özil (quem diria!) deu mais resultado. Dois a um. Fim. Argélia sai de cabeça erguida. Alemanha também.

A Vergonha de Gijón foi apagada. Lembraremos apenas da Batalha de Porto Alegre.

Alemanha agora enfrenta a França nas quartas de final na próxima sexta. O jogo no Maracanã tem tudo para ser outra batalha memorável nessa Copa das Copas. Löw deve mexer no time. Espero. A disputa no tabuleiro de xadrez do meio campo será imprevisível. Bom para o futebol. Obrigado aos deuses do futebol.

No duelo de novas gerações, Bélgica e Estados Unidos buscam sobreviver na Copa das Copas

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Salvador começa a segunda fase, no nível da primeira

Texto de: João Vitor Rezende

A próxima terça-feira promete na Arena Fonte Nova. Depois de grandes duelos na primeira fase, como as goleadas de Holanda, Alemanha e França, contra Espanha, Portugal e Suíça respectivamente, o mata-mata já começa mantendo o nível dos primeiros duelos em Salvador. A tão falada nova geração belga, passou tranquilamente pelo grupo H. 3 jogos, 3 vitórias, 9 pontos, apenas 1 gol sofrido. Os estadunidenses, tão jovens quanto seus rivais de oitavas de final, mas não com uma primeira etapa tão fácil. Contou a favor, o fato de não ter levado tantos gols da Alemanha. 1 vitória, 1 empate, 1 derrota, e apenas 1 tento sofrido contra os alemães.

Cercados de observações e expectativas de um bom futebol, a Bélgica tem decepcionado os que esperavam show, passeio no grupo H. Mas os diabos vermelhos, nunca deram espetáculo. A seleção é repleta de destaques indivíduais como Courtois, Kompany, Fellaini, Mirallas, Lukaku e o craque do time Hazard, Marc Wilmots não consegue achar a melhor maneira de fazer suas estrelas renderem em campo. Mas, os belgas conseguem ser eficientes quando estão em apuros. Foi assim nos três jogos da primeira fase decididos nos últimos 20 minutos em cada peleja.

Os Estados Unidos vem surpreendendo pelo nível técnico apresentado no Mundial. Venceram Gana na primeira rodada, depois seguraram o melhor do mundo, e na sequência jogaram de igual pra igual frente a Alemanha, uma das favoritas ao título. As subidas pela direita de Johnson, o meio-campo de qualidade, com bom posse de bola, toque e agilidade, e a intensa movimentação de Dempsey no ataque, são as armas dos norte-americanos.

Duelo de bons jogadores, e também de bons técnicos, que prezam pela habilidade e não pela força física. Klinsmann pode aproveitar as duas linhas de quatro, intercaladas com 1 volante de seus adversários, e apostar na mobilidade e o avanço de seus volantes para dominar o meio. Hazard pode ser facilmente anulado, se permanecer preso na ponta esquerda. A solução de Wilmots para que os belgas apresentem um futebol mais vistoso, é deixar Hazard com liberdade em campo. Mirallas merece a titularidade pelas atuações na primeira fase. O esquema também precisa ser repensado, pois o 4-1-4-1 não vem dando certo. O 4-2-3-1 poderia se encaixar melhor, com Lukaku de referência e De Bruyne no banco.

Mirallas, o salvador belga (Foto: Gabriel Bouys/AFP)

O vencedor enfrenta nas quartas de final Argentina ou Suíça. Vale a pena conferir o duelo, e observar como os jovens selecionados se portam em um jogo de grande importância, como um mata-mata de Copa do Mundo. Um grande confronto nos aguarda e quem vencer ainda dará trabalho no Mundial.

Calor, sufoco e Oranje nas quartas

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Holanda vira partida no fim e garante vaga

Texto de: Vitor Carvalho

Robben e Sneijder, os mais importante no duelo, comemoram vaga (Foto: Reuters)
A Holanda venceu; confirmou o favoritismo, a lógica para a maioria, e Van Gaal, mais uma vez, sorriu. Mas para saírem de campo aliviados, o jogo e o cenário se encontraram mais difíceis do que imaginavam. O México não teve medo. Ochoa inspiradíssimo, no local onde, doze dias antes, parou a seleção brasileira. Fortaleza, que faz jus às suas atuações até aqui no mundial e à defesa mexicana, liderada pelo capitão Rafa Márquez.

O temperatura era alta - porém, dentro de campo, muito estudo e poucas tentativas. Pela primeira vez no mundial foi usado o "cooling break", assim denominado pela FIFA, para descanso e reidratação dos jogadores. Conforme o combinado, jogos com temperatura acima de 32°C deveriam ser paralisados aos 30 minutos de cada tempo, desde que houvesse comum acordo entre os treinadores. Assim houve e, mais do necessário, prezava pelo bom futebol. Jogar no Nordeste, às 13h, é um desafio e tanto.

Esperava-se mais da Holanda. A sensação que ficou, ao menos na primeira metade, é de que o México equilibrava a peleja mais por méritos do que pela deficiência do adversário. Poucos tiveram a percepção de elogiar a disciplina tática (como já diria Galvão) dos mexicanos. Que haveria entrega ninguém desconfiava, porém, teve mais. Teve Giovani dos Santos quase marcando no fim do primeiro tempo; também Salcido arriscando de longe e teve segurança por parte de todo o sistema defensivo, exceto o capitão. Márquez quase deu uma entregada no melhor estilo Gerrard. Facilitou para Robben, o mais incisivo holandês, que arrancou até a área e sofreu um duplo penal. O árbitro mandou seguir, e logo depois os jogadores voltaram ao vestiário, exaustos, e não era pra menos. Até a torcida acusava o forte calor, se concentrando onde havia sombra no belo Castelão.

A pausa foi fundamental. Os mexicanos voltaram ainda melhores e, logo no início, após arrancada, Giovani dos Santos arrematou de fora da área. Golaço, tirando as chances de defesa de Cilessen. Hora dos holandeses irem pra cima, superar as adversidades do dia e tentar uma bola para Van Persie - mais sumido que o Kagawa na copa - ou na genialidade de seu craque apagado, Sneijder. Isso porque Robben era incansável, um dos melhores do mundial, sem dúvidas. Mas ele não joga sozinho - embora quase toda jogada o designe como tal.

Ochoa intervém em mais um ataque holandês, desta vez pelo alto (Foto: Reuters)
Van Gaal percebeu que precisava de mudanças. E só tinha mais duas, já que De Jong deixou o campo nos minutos iniciais dando lugar a Martins Indi. O zagueiro compôs a linha defensiva e o ótimo lateral Blind fora deslocado para a volância. O lateral do Ajax parecia não se encontrar e estava longe da atuação contra os espanhóis na estreia. Os minutos corriam e o comandante apostou em seu talismã: Depay, que nos jogos que entrou decidiu, foi designado para incendiar a partida, e pouco o fez. Se a mudança já era ousada, mas prudente, colocando um ponta no lugar de um lateral, ninguém imaginava que o treinador holandês tiraria o capitão Van Persie de campo. Tirou, e Huntelaar pisou pela primeira vez nos gramados brasileiros.

Diferentemente dos jogos anteriores, as mudanças não surtiam efeito. Enquanto a seleção se esforçava para conseguir jogadas perigosas, Ochoa pegava tudo e ainda contava com a trave - parecia seu sexto dedo. O México se fechava e a classificação às quartas, depois de 28 anos, era realidade. Uma equipe que esteve a beira da não classificação até os 47 minutos do segundo tempo, frágil e sem comando, se reestruturou. A tradicional camisa mexicana em mundiais apareceu. Miguel Herrera, o comandante, e seus jogadores mereciam continuar a dar alegrias ao povo.

Como a classificação para o mundial veio, a eliminação no torneio também chegou da mesma forma, nos acréscimos. O México vencia até os 41 minutos, quando em um escanteio, provido da pressão holandesa, Sneijder empatou. Passe (desvio) de Huntelaar, que o carrasco brasileiro pegou de primeira, com raiva, mostrando que está vivo no mundial. Ainda teve tempo, dessa vez pelo lado direito do campo, de Robben carregar a bola até a grande área e desmanchar em cima de Rafa Márquez. Dessa vez, o juiz apitou pênalti - inclusive, muito discutível. Huntelaar, que pediu a bola para Robben, bateu. Marcou o gol da classificação às quartas de final. Castigo para os mexicanos, felicidade holandesa. E quem é que disse que os homens do banco de Louis Van Gaal não resolvem?


Huntelaar e Depay, ambos vindos do banco, festejam a virada (Foto: Reuters)



James Rodriguez decide e Colômbia enfrenta o Brasil

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Texto de: Jean Marcel

Sem as suas principais estrelas, seleções sulamericanas se diferenciam com os coadjuvantes

Suarez, operado um mês antes da copa e, posteriormente, banido do futebol por 4 meses. Falcão Garcia, lesionado em um jogo da Copa da França e fora da copa. Colômbia e Uruguai viram seus ídolos, por motivos diversos, longe da Copa do Mundo e se enfrentaram nas oitavas de final num jogo morno e que a história se lembrará como a diferença entre James Rodriguez e Edison Cavani.
Cavani, o símbolo da seleção uruguaia sem Suarez. Crédito: Globoesport

Os dois jogadores do Mônaco são estrelas também, mas não são os protagonistas de seus países. James é novo, se destacou recentemente e surgiu na copa como a salvação de um time que perdeu sua referência. E foi dos pés dele que surgiu a vitória Colombiana, nos dois gols, no talento e na raça do melhor jogador da copa, pelo menos até agora. O camisa 10 dos "cafeteros" não se omitiu em nenhum momento e levou seu time, com dança e alegria, para as quartas.
Já Cavani é mais experiente, 27 anos, tinha tudo para explodir nessa copa, mas não o fez. Cavani foi omisso, esteve sumido, sacrificado para Suarez brilhar nos dois últimos jogos, e saí da copa com um gol de penalti apenas. Cavani foi o menos uruguaio dos uruguaios, o menos aguerrído, o menos entre os que esperavam muito. 
Colômbia empolga com bom futebol e melhores comemorações

E no fim, essa foi a diferença. Sobra para Tabarez a missão de rejuvenecer o time, que perde Lugano, perde Fórlan, terá Muslera, Godín, o próprio Cavani, Alvaro Pereira, Suarez e muitos outros com mais de 30 para o próximo ciclo. E para a Colômbia é pensar no Brasil, que jogou mal contra o Chile, e alcançar a maior façanha da história futebolística do país. Futebol, os comandados de Peckerman já demonstraram mais do que os brasileiros, agora resta saber se a história lembrará de James Rodriguez como o nome de 2014 ou de alguém que foi até onde podia sem Radamel Garcia. 

Punição (muito) exagerada, mas não esconde o erro de Suárez

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Texto de: Gabriel Panice

Como todos sabem, o atacante uruguaio Luis Suárez pegou um gancho pesado da FIFA. Após morder Chiellini, da Itália, o atleta não atua mais durante essa Copa. Nove jogos oficiais com a seleção, quatro meses fora de qualquer atividade relacionada ao futebol, além de uma multa de 100 mil francos suíços.

Pena pesada e inédita na história das Copas. Exagerada, claro. Suárez fica proibido inclusive de pisar em estádios durante a Copa, sua credencial foi confiscada e ele já retornou a Montevidéu. Injusto. Como um jogador não pode sequer acompanhar seus conterrâneos disputando uma Copa??

Não se pode esquecer que é a terceira mordida de Suárez. Já havia mordido Bakkal, em 2010 e, Ivanovic, em 2013. Além do famoso caso de racismo. Óbvio que o passado pesou. Não se pode defender Suárez quanto as suas atitudes. Enorme jogador, pessoa questionável. Mas ficar quatro meses sem poder exercer sua profissão é justo?

O próprio Chiellini questiona a pena exagerada imposta a Suárez. Em comunicado diz que a pena é alienante e se solidariza com o companheiro de profissão, impedido de exercê-la por quatro longos meses. 

Mas talvez, com essa punição, Suárez aprenda de uma vez por todas que vivemos em sociedade e que certas atitudes são condenáveis. Morder colegas em campo é uma delas. Repito, essas atitudes não condizem com o grandíssimo jogador que é, e que fará muita falta ao Uruguai. Uma atitude imbecil e impensada praticamente tira a possibilidade do Uruguai repetir 1950. Uma pena.

A Copa no sofá

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Texto de: Enrique Bayer

Torcida de Copa do Mundo e transporte coletivo – em greve ou não – tem lá suas semelhanças: nos dois você vai encontrar todo tipo de gente. Até aquela sua vó que se lembra da expulsão do Daniel Alves contra a Alemanha na África do Sul, em 2010 (foi o Felipe Melo e contra a Holanda vó, mas tudo bem). 

Outra personagem sui generes é seu vô, casado há 78 anos com a vovó e que recorda até hoje que o radinho de pilha – aquele mesmo que ele usa pra ouvir os jogos do Operário – deixou o velho na mão em plena final de setenta, quando Pelé rolou a bola pro Capita marcar o terceiro tento canarinho contra a Azurra no estádio Azteca.


Copa do Mundo também é uma oportunidade pra ver aquela sua tia, aquela mesma, que sempre pergunta das namoradinhas e vai perder um pedaço de todos os jogos do Brasil nessa Copa porque estará preocupada estourando pipocas – que não durarão dez minutos – para a família inteira. 

Acompanhando sua tia vem o tio que sempre faz a piadinha do “pavê ou pacumê” - sim amigo, ele também vai – e provavelmente vai soltar uma do tipo “E aí, quando o Hulk vai ficar verde e resolver esse jogo pra gente?”.


O torneio também traz consigo aquele seu amigo que tem certeza que sabe mais de futebol que você e passa boa parte do jogo analisando a tática de seleções como Honduras, Costa Rica e afins (e ainda questiona porque fulano de tal não foi convocado). Tem aquele seu outro tio, solteirão aos 53 anos, que ninguém aguenta acompanhar na bebida e continua gritando “Não vai ter Copa!” durante a semifinal.

É lógico que o seu vizinho, que tá com a TV estragada, não ia perder a oportunidade pra fazer parte da festa. Aquele, que compartilha imagens da “TV Revolta” no Facebook, vota no Aécio Neves e afirma com convicção que a Copa tá comprada pra ajudar a Dilma numa possível reeleição. Sim amigo, com certeza.

E você, tentando num esforço colossal se concentrar no jogo quando de repente ouve aquele narrador famoso: “Haja coração amigo!”, como se estivesse sentado na sala do seu lado. Afinal de contas: “É Copa do Mundo!” e torcida de Copa tem de tudo, inclusive gente tentando ver o jogo.

A torcida é para o Brasil, ou para a Taça?

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Texto de: João Vitor Rezende

Brasileiro acha que sabe torcer. Nas arquibancadas das pelejas na pátria das chuteiras é nacionalista sim, “com muito orgulho e com muito amor”. Assim como é no vôlei, no futsal, no basquete, no handebol...

Em 12 anos de minha lucidez futebolística, e há uma era bem anterior a minha existência, a torcida verde e amarela é somente “brasileira, com muito orgulho e com muito amor”. No máximo, é “lê, lê lê ô, Brasil”. A Copa do Mundo aplicou um choque de realidade aos que consideravam nossos adeptos como o décimo segundo jogador. A fase está tão complicada, que as emissoras de TV estão tentando intervir.

Nessa terça em partida contra Camarões, a torcida de Brasília levou a sério demais a máxima de que o futebol é um espetáculo. Parecia um teatro. Público sentado, parecia apenas apreciar o que via. Como incentivo, aplausos. Vaias para o que não agradava. Gritos, apenas com a bola balançando a rede - e, quando estufaram a rede de nossa seleção, silêncio absoluto. E parecia luto, pois o silêncio permanecia por um bom tempo. Dessa vez, nem o hino foi completado com o fervor visto anteriormente. Os donos da casa estão deixando os visitantes fazer a festa.

Os nossos vizinhos americanos invadiram as sedes, e estão lotando as nossas novas arenas. Os estadunidenses, que para o mundo ainda "não gostam de futebol", compareceram em peso. Os mexicanos calaram a vibrante Fortaleza, no empate sem gols da terceira rodada. Os chilenos também cantam o fim do hino a capella. Uruguaios, colombianos e argentinos pareciam estar dentro de um de seus alçapões. Uma pena os novos estádios não terem alambrados, pois os ‘hermanos’ já teriam tomado conta dessa área.

Os europeus, principalmente holandeses, franceses, ingleses e italianos, estes dois últimos que vão embora mais cedo, não vieram à toa. Se fizeram ouvir, com direito à Marselhesa e à clássica versão de “Seven Nation Army”, de The White Stripes, enquanto a bola rolava. Os africanos atravessaram o oceano, em menor número, mas representaram bem seu continente.

Mesmo em maioria, o placar não está favorável aos nossos torcedores. A conversa mole de dizer que o torcedor de verdade, a galera da antiga (e saudosa) geral do Maraca, a massa fanática não está nas cadeiras numeradas da Copa, não cola. A única camisa pentacampeã do mundo não pode simplesmente ser vestida como qualquer outra.

Torcer para o Brasil precisa ser mais que vibrar com os bons momentos. As manifestações de apoio devem ser feitas durante todo o jogo, principalmente quando a seleção está em maus bocados. É como jurar fidelidade no altar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de nossas vidas. É torcer rumo ao hexa, mas o sentimento não vai mudar caso ele não venha dessa vez. É torcer pelos 11, e não por aquele aglomerado de ouro que agrega o currículo, que chamam de caneco, título ou taça. De gol em gol, ou de derrota em derrota, ser torcedor é bem mais do que somente tirar “selfie” de costas para o gramado.

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